segunda-feira, outubro 30, 2006

Encantador de Serpentes

Imagem: Allafh Kajin

Encantador de Serpentes

Como sorvo do nada que o mundo me alimenta
sirvo de motivo para cães rosnarem
suas mágoas entre ossos na calçada
vasculho o lixo da humanidade insalubre
desta época de uma vertente contrária
a dor que sinto excluído nesta mesa
brinda a solidão companheira de horas
infindáveis entre cardápios de couro
a pele da serpente que se desgasta a cada movimento
vai se dissolvendo para nascer de novo
mais pálida e assustadora que a morte
que persegue e não encontra
meus rastros apagados pelo tempo
armei antes as armadilhas que caí
por isso mesmo machucado, continuo vivo
mas cavando minha própria cova
rasa para não dar trabalho
aos vermes que me perseguem

Ah! Essa música de abutres

Parasitas protozoários do veneno inoculado
anedotas cantadas sem distinção da piada
a fogueira e a festa da peste diabólica
partidos políticos em campanha
no horário sobrenatural obrigatório
pacifistas disseminando o caos enclausurado
nas veias de esgoto sanguíneo
a fonte dos males humanitários
procriando novas espécies de animais; no pus
as doenças terminais que nos esperam
sem razão a cura milagrosa dos fiéis não praticantes
em troca do dízimo prometido em cartório

A salvação...

Marcos Caldo