quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O Sinal da Cruz

imagem: artista desconhecidoO Sinal da Cruz

O sinal da cruz
Que ela carrega no pescoço
É tão pesado às vezes...

Chega a queimar a pele
Tatuando a dor
Num corte fino de agulha
Como se quisesse fechar o corpo
Dos pecados, expondo-os na superfície

Logo abaixo
A temperatura ferve
As cores são mais quentes

- E os caminhos?

Muito mais estreitos
Dependendo da onde se quer chegar
Seguindo sabores exuberantes
Sentindo aromas estonteantes

Apegada ao corpo
A borboleta desistiu de voar
Para me guiar ao paraíso
Abrindo suas asas imaginárias
Que escondiam belezas nunca vistas

Neste jardim intocado
A flor da tua pele
Ficou com o meu perfume
Até o próximo banho
Quero sentir a eternidade
Como se fosse nossa suave rotina

Sem ter medo de amanhecer
E te perder de vista
No meio da multidão cinza
Que agora me acompanha
Até nas noites sem lua

Onde fui parar?

Enganado mais uma vez
Pelo destino...
Joguete do meu eu
Em outra cidade
Agora mais distante
Dos teus sonhos acordados

Estes olhos que refletem noites
Para que eu possa sonhar também
E quem sabe te encontrar mais uma vez
Distante de calendários improvisados
Estipulados aos desencontros e despedidas

Se o tempo parasse
Como? Quando te beijo

Tudo para.


.......................Marcos Caldo








terça-feira, fevereiro 13, 2007

Filtro dos Sonhos

imagem: Dr. Sigmund Freud
Filtro dos Sonhos


Sabe o que não existe
E que aparece nos teus sonhos
Na tua lembrança quase morta
Aquela garota brincava
Com camundongos (ratos)
Filha de índia no laboratório
Sua pele branca da noite
Refletia a lua na gaiola
Ela quer sair dali – surreal
Essa forma de vida sem formas
Contornando grades e ponteiros
Derretendo sob efeito de um selo
O carteiro viaja distâncias imensuráveis
Sem tocar o solo desacordado
Imaginando lugares milagrosos
Sofrendo só o necessário
Para depois sorrir dessa dor
Perdida num grito calado
Cavalos - submarinos sem rédeas
Sentem falta de ar quando voam sem asas
Em direção ao sol congelado no horizonte
Estado mais sublime da matéria
A alma orgânica dos animais
Evaporando na direção do céu
Nuvens de entes queridos formando tempestades
Lágrimas de saudade escorrendo na janela
Lá fora das pálpebras sobressalentes
Manchando de cinza o mais belo rosto
De natureza morta o pincel sobrevive
Bebendo a vida nas cores
E tirando das imagens suas dores
Colhendo flores na semente
Germinada na areia antes de nascer
Vi brotar um espinho no lugar das folhas
Costurando a pele e cicatrizando
A lembrança de todos os meus amores.

Marcos Caldo