domingo, maio 20, 2007

Último Poema

imagem: Carol Trentini
Último Poema

Eu queria sim
que ela estivesse aqui.
Com seus ossos a mostra,
pronta, como no dia
em que nasceu.

Prematura

Sem medo da vida,
aceitou o pedido
[desafio]
e veio antes da hora.
Sorrindo com os olhos
cheios de lágrimas,
como num dia chuvoso.

Sem desperdiçar uma gota
preferiu se molhar.
Correndo livre pela rua
que não voltou mais,
pelo mesmo caminho.

Depois que cresceu...

Para não lembrar do passado,
entrou para a história.
E assim permaneceu eterna,
na minha lembrança:
-A mais linda de todas.

Onde fui guardar tanta beleza ?

Me desculpe,
mas eu tive que ficar
para um último poema.

Marcos Caldo




domingo, maio 06, 2007

História do Álcool

imagem: Paixão Bandida

História do álcool

A história do álcool
É bem mais antiga
Que a do fogo

Alquimia dos loucos
Experiência de poucos

O primeiro gole
Na fórmula que evapora
Antes da primeira lágrima
No rosto daquela garota
Que sorrindo esqueceu da dor
E hoje mesmo infeliz
Não chora mais

Ela quer mais
O que posso oferecer?

A história do álcool
É bem mais antiga
Que a do fogo

Alquimia dos loucos
Experiência para poucos

Que tem coragem
De ir além
Dos limites impostos
No primeiro não

A decepção

Guardei na última garrafa
E não quero mais abrir

Vendo ela dançar
Sob efeito da minha criação
Escute o coração

Prefiro sorrir
E celebrar o inesperado
Nas poucas palavras que falo
E que não me deixam dormir

Na oficina da noite
Que constrói os sonhos
Dos que vagam perdidos
Por aí...

Na infindável busca
Da mistura perfeita
Encontre a vida
Onde a morte espreita

A noite perfeita
Foi feita
Pra quem não sabe dormir

Alquimia dos lábios
O beijo; saliva e lágrimas
Nos olhos a vista
Que meu corpo
Deseja possuir

Cabelos longos
E ossos à mostra
O estado perfeito
Para a ciência maior

Um cigarro aceso
a flor da pele...Tatuada,
nas costas da moça
O balanço das ondas
instáveis da existência

O copo quebrado
O pedido feito
Meio inesperado
O desejo realizado
Guardado numa bolsa vermelha

A dose perfeita
Escondida nas profundezas do ser

Esta queimando dentro de mim
Talvez eu tenha exagerado

E não me importo mais
Com o que possa acontecer
Esse é o espírito
Dos que não tem medo de perder

Mesmo se sentindo só
Já passei por coisa pior
Meus pés não mentem
Os vidros e o sangue pisado
Os passos que sumiram
As marcas que viraram pó

Num caminho passado
Com ela ao meu lado
A minha garota
Fui onde nunca
Esperei chegar

Vinte para às onze
A música no rádio
O entorpecente...
Meu corpo anestesiado

As luzes vão se apagando
uma a uma...
Momentos que foram passando
diante dos meus olhos
Um brinde ao eterno amor
que talvez não exista

- O último gole.

Marcos Caldo

p.s.: 1º ano do blog. - saúde!

quinta-feira, maio 03, 2007

Amigo Imaginário

imagem: Donnie Darko

Amigo Imaginário

Conversamos em silêncio, falamos de coisas que não saberia descrever tarde da noite numa caminhada mesmo que sem volta, quando se ouve o próprio assovio ecoando pelos becos esquecidos em outras melodias, se bem que era isso mesmo, o que passou pela minha cabeça naquela hora de distúrbio emocional, preso ao último abraço, encontro e despedida para uma vida inteira sem entender os primeiros conflitos que me construíram dessa forma, fui embora. Para sempre.
Não quis entender mais nada depois disso, na verdade não se sabe de nada antes de perder tudo pela primeira vez, talvez esse seja o mistério escondido nas placas de contramão que fizeram com que me perdesse da vista de todos. Onde é que estou? Olhando outras paisagens, distante no céu a nuvem negra segura a última gota em seus olhos, para que lavar a sujeira desse mundinho ela deve se perguntar, e eu acompanho a sua gargalhada!
Geralmente nos momentos de solidão alguém lhe faz gracejo em outra cidade, sim como poderia esquecer de lhes dizer, agora o que vale a pena, senão as sobras catadas de uma só vez. De punhados de pedras amontoadas se fez a maior parte desses prédios e eu me sentindo inferior olhando daqui de baixo para cima, não vejo Deus sentado em seu escritório, aliás, adoro procurar nas várias crenças e religiões o sentido da vida e outras explicações que nenhuma das mesmas soube me provar. Sócrates, aquele canalha que nasceu antes de mim fez as perguntas certas para as pessoas erradas, e deu no que deu.
Por que buscar o sentido de algo desconhecido sabendo que tudo é passageiro e em breve todo suor vai secar para deixar lugar ao cheiro fétido nas axilas, só nos resta sentar com um cigarro aceso nas mãos e esperar para que o sol de lugar à noite e um belo bar nos espere com mesas reservadas em frente a uma banda decadente, que toque só o que queremos ouvir pelo resto da vida, mesmo que isso dure apenas uma noite.
Passei dessa para melhor e acordei meio enjoado, ao meu lado uma bela jovem de cabelos castanhos lisos sonha tranqüilo com as delícias que um dia vou lhe oferecer para que ela possa morrer feliz ao meu lado depois das juras de amor eterno. Era tudo o que eu queria também antes de ler o jornal de hoje, na primeira capa a propaganda de um comercial de margarina. Era isso, ainda me falta um cachorro! Agora minhas caminhadas de domingo farão sentido no parque que nunca freqüentei por não encontrar diversão em lugar nenhum.
Sabe aqueles lixos com cara de palhaço, sempre achei uma falta de respeito dar gargalhadas fora de hora, mas fazer o que, essas realmente são as melhores. Acabei de ver uma pomba ser eletrocutada em pleno vôo... Mentira! Só para não perder o costume, fico falando sozinho e tento dizer geralmente coisas de mau gosto.

Marcos Caldo


quarta-feira, maio 02, 2007

Nó de Gravata

imagem: Al Pacino e Marcos Caldo; foto: Renato Rohrbacher
Nó de Gravata

Hoje eu consegui !
Fiz meu primeiro nó de gravata
Que coisa estranha senti
Na última volta
Quando completei o laço
Talvez agora me torne importante
Ao menos foi essa imagem
Que passou em minha cabeça
Quando sufoquei, ao passar
Demais o nó na garganta

Será isso um mal presságio ?

Acho que não...achei engraçado
E ri como às senhoras
Sentadas ao meu lado no ônibus
Atentas aos erros juvenis

Considero esse feito
Como sendo um rito de passagem
Não sei para onde
Mas hoje um novo rumo
Prendeu-se no meu destino
Uma nova viagem descoberta
A caminho do trabalho
Continuo o mesmo cabeludo
De sempre, mas com outra “cabeça”

Então é isso, simples assim
E num instante me torno adulto

Projetando uma sombra
Na minha velha infância
Companheira de sonhos
Que agora irão se realizar

Esperei tanto por esse dia
Agora tão comum aos outros
E ao mesmo tempo distante
Somente a esse despertar
Já acordado em mim
Posso recomeçar do zero
E crescer sempre
Como eu imaginava

Hoje eu consegui !

Marcos Caldo