sexta-feira, junho 29, 2007

Sétimo Dia

Finjo muito bem. Talvez a certeza dos meus olhos fechados é quem não nega a verdade que tento dizer quando falo uma mentira. Descaradamente com a mesma cara de quem reza de joelhos e não demonstra dor nas próprias preces. É melhor assim para que os pedidos sejam atendidos de prontidão antes do fim do terço.A ladainha unissonora da multidão reflete em mim o desejo quase santo de interferir na missa antes das doze badaladas, rogando em comunhão músicas ensurdecedoras, quase sempre animo o cortejo antes do funeral. Velas são sempre fúnebres antes mesmo de queimar o mal preso em cada pavio; corroendo a própria cervical pode se ver em chamas a leucemia inquisidora, derretendo lágrimas sinceras que escorrem a espera do perdão.Triste fim para uma festa que termina antes do parabéns, em silêncio o último adeus e assim vão embora todos aqueles que não convidei. Porque seus olhos brilhavam mais do que no dia em que os conheci, forma estranha de se despedir.Queria dizer tanta coisa e não tive tempo, será que serei lembrado amanhã por aqueles que me viram essa noite em profundo silêncio? Já não me sentia bem há algum tempo, acho que todos entenderam o motivo do meu sono. Logo eu que festejava as noites de lua cheia até acabar o vinho... Sinto por todos, mas hoje fui o primeiro a deitar, estava cansado demais para continuar fingindo o sorriso que não manteria no rosto por muito tempo.O silêncio me esperava fechado numa caixa de música com pregos de nove polegadas a sete palmos do chão.Ali, na companhia de vermes, descobri o mistério da vida antes de virar pó, para renascer de novo. - Se é que alguém ainda acredita nisso !Continuo sendo o milagre daqueles que perderam a fé para acreditar nos propósitos inferiores.Realmente mundano, sou apenas mais um condenado à vida eterna sem propósito para existir, tentando desaparecer a cada dia.

Marcos Caldo