sexta-feira, setembro 15, 2006

A Hora da Discórdia

imagem: Gericault
A Hora da Discórdia

Anoiteceu...
E quando fico sem palavras
para descrever o luar,
digo apenas boa noite.

Nessas horas, saio
Caminho por lugares
E ruas sem saídas
Quando o cansaço
Bate as pernas, paro.
Sento em algum bar
E escuto muita mentira
Aquelas velhas piadas
Que nunca soube contar
Fizeram-me rir brevemente
Sem mover os lábios
Deixando as pessoas
Intimidadas pelo silêncio
Que se espalhou involuntário
Pela reação em cadeia
Dispersa dos hábitos ocultos
Na memória de cada um

Chegou à hora da discórdia

Parou os relógios
Durante o tempo necessário
Para a última reflexão
Das contas a pagar
Pelo desperdício explícito
Nas sobras das mesas
A refeição de porcos
Enfastiados e suando frio.
Acabaram de descobrir
O segredo da ceia derradeira
E engasgados faleceram
Todos que não resistiram
Aos prazeres da maça
Que puseram na boca
Já satisfeitos
Cessando a algazarra,
Dando início a outro tipo
De celebração,
Esta bem mais silenciosa.

Anoiteceu...
E quando fico sem palavras
Para descrever o luar,
Digo apenas boa noite.

Marcos Caldo