quarta-feira, novembro 15, 2006

Fuga da Cidade

imagem: Kaaba/David FeblandFuga da Cidade

Você me tem na mão e sabe disso, agora e quando quiser. Você me tem nos teus lábios a disposição da tua vontade, da tua piedade.Você me tem aqui. Agora nessa distância curta dos nossos corpos que imploram por uma trégua de algo que não compreendemos.
Para o fim de folhas amassadas, depois de discussões banais na saída de lugares sem sentido. Vamos nos encontrar de novo, antes do desespero daqueles que foram embora antes de nós e aguardam na saída da cidade a resposta do engano na conveniência do posto de gasolina, enchendo a cara de álcool e abastecendo seus ouvidos com malefícios via rádio. Não deram o direito de resposta aos desinteressados que passavam desapercebidos pela banca de jornal a procura de cobertores.
E agora o que será, do que havia sido prometido? Das noites de festa e dos dias de dor, tão breves e inconstantes como o sentimento urbano dos nossos desencontros estampados aos olhos dos que transitam entre nós. - Há tanta gente entre nós.
Pedindo atenção em muros e laterais de prédios, sentados ao meu lado nas janelas sem vista do metrô, a sensação de claustrofobia aumenta às seis horas da tarde que passei sem você, enclausurado dentro de algum estabelecimento comercial sem fins lucrativos. Sabemos que uma carteira sem alma não vale nada nos dias de hoje, a filosofia espiritual dos bens materiais esta cada vez mais escassa nas prateleiras de supermercados afiados contra o desejo dos mais fracos e desprovidos da velha sorte.
O baralho que foi cortado não se usa mais em jogo e depois que os dados pararem de rodar, poderemos nos juntar finalmente ao acaso de um encontro inesperado, mas previsto nas linhas da tua mão. A certeza foi escrita antes de inventarem a borracha para que não houvesse dúvida em nossos corações, mas os planos foram descobertos da cama em lençóis de seda, e no meio da noite acordamos sem lembrar dos sonhos que tivemos antes de dormir.
- Pela primeira vez sentimos medo...

Marcos Caldo