segunda-feira, maio 22, 2006

Chamada a Cobrar (febre amarela)

imagem: Nenúfares; Monet

Chamada a Cobrar (Febre Amarela)

Ao fundo o som do telefone toca distante do meu pensamento, ignoro-o não quero saber de nenhuma voz estridente me convidando para algum bordel de inutilidades ou velórios de indigentes que não trarão de volta a minha paz tão sonhada.
O céu é febril nesse agosto de folhas mortas e espalhadas pelo chão já gasto pelo tempo.Tão singelo é o retrato desta paisagem esquecida pelos que fazem parte dele mesmo, e por estarem diante de algo belo transformam-no em terrível. O que poderia ser um sonho?
Talvez um dia de horas infinitas consiga explicar o que o tempo costuma perguntar para a idade, e cheguem num consenso de que nada existe, senão para a dúvida permanecer constante nos pés de cada um.
O telefone ainda toca. – Não vou atender.

Marcos Caldo

sexta-feira, maio 19, 2006

Requiem para o Ideal


REQUIEM PARA O IDEAL


I

Busco na encruzilhada
a certeza utópica da realidade
traçada por mãos valentes,
que medo não tiveram
em bradar por sua liberdade.
Aventurados sejam os bravos paladinos,
destemidos em seus ideais,
seduzidos pelos prazeres da virtude.
Encontram na morte honrosa
o nascimento d’um eterno mito.

II

Vida eterna que será consagrada,
por lágrimas sinceras de amantes tórridas.
Derramadas sob túmulos de glória
ornados por rosas lascivas.
Objeto de desejo;
Espinho que fere,
faz escorrer o sangue imaculado
pela boca d’um invejoso.

III

Bebes tu,
também deste sagrado - Cálice.
Oh fiel pecador.
Não deves temer a derrota.
Um dia saberás,
que todos nós já perdemos.

IV

Acabo de lhe confessar um segredo,
mas esqueça tudo.
Siga em frente por si
...Só.
Confie apenas em teu egoísmo;
Orgulhe-se do seu orgulho,
e teu mérito será maior.

Marcos Caldo

quinta-feira, maio 18, 2006

Enquanto Dormes

imagem: Ofélia; Salvador Dalí
Enquanto Dormes


Não se preocupe com sonhos
Feche a cortina da alma
Eles virão nessa noite
Calma de lençóis pálidos
Macios dos desejos inocentes

Boêmios selvagens agora voam
E da janela ao teu encontro
A distância curta do olhar
Torna-se infinita
E trancada, tuas pálpebras
São vigilantes noturnos
Rondam teus medos

Enfurecidos como cães
Ladram sem cessar
Afugentam os que te querem

Bem longe daqui
Bem longe daqui

Alguém que não existe
Virá para satisfazer
Teus desejos mais ocultos.

Esteja pronta
quando baterem à tua porta
não tentes fugir, descalça
não irás muito longe.

Marcos Caldo

quarta-feira, maio 17, 2006

Consolação

imagem: Magritte


Consolação


A mentira se esconde
Em lábios suculentos.
Na voz mais doce,
daquela garota
de olhos sinceros.

Que te mata aos poucos...

A cada beijo.
No silêncio cínico,
o sorriso afiado.
Impregnado na lembrança
de roupas no cesto,
agora vazio da memória.

Que te mata aos poucos...

Sem abraço de despedida,
ela se vai
como sempre foi.
E você fica perdido
Sem lugar, sem ninguém...
Sozinho como sempre esteve,
à procura de alguém
que te abandone novamente.

Marcos Caldo

sexta-feira, maio 12, 2006

Maelströn Hotel

imagem: artista desconhecido


Maelströn Hotel


Vou gravar minhas memórias
Num balcão de um hotel.
Para que a melodia dos copos
Agitem eternamente essa lápide
E não me deixem dormir
Sob esse teto frio
Que cobre meu corpo

Damas embriagadas, embaladas também
Contarão seus segredos mais íntimos
Para meus olhos atentos
Serei imortal enquanto dançarem
Sobre a minha cabeça
Essa será a última imagem
Imaculada – dos prazeres noturnos
Da poesia de bordel
Nos cabarés, na boca do lixo.
De todas as carreiras
A última que sobrou
Na qual eu acredito

Só encontro à verdade
No longo caos dos sentidos
Vou gravar minhas memórias
No teu ventre, no meu sagrado
Santuário – no teu esconderijo
Fazer minha morada – imaculada

Quando nada mais fizer sentido
Quando eu não mais tiver
Um lugar pra onde ir.

Marcos Caldo

sábado, maio 06, 2006

Auto-Retrato

imagem: artista desconhecido

Auto - Retrato
É . . . Minha vida vai mal, uma bosta pra ser mais exato.
Tá feliz agora? Isso fez bem pro seu ego?
Dá até para ver teus dentes felinos por trás deste sorriso hipócrita.
- Vai tomar no cú.
Marcos Caldo